O propósito
Em meados de 2017 iniciei uma série de estudos neurológicos com foco no desenvolvimento educativo de crianças e adolescentes, visando estudar o desenvolvimento integral do ser humano, pautado nos processos de aprendizado que tenham significado para o estudante.
Dentro dos meus estudos pude perceber o quanto a tecnologia poderia contribuir para a construção de uma educação moderna, alinhada com os avanços tecnológicos globais. Comecei então a idealizar um método de ensino, no qual os alunos seriam convidados a olhar para o seu ambiente e colegas e problematizar questões reais da sua sociedade. Com a ajuda do professor, matérias como geografia, história, matemática, física, ciências, português, inglês, cidadania podem ser estudadas e ganhar aplicações significativas para o desenvolvimento de projetos makers, nos quais a robótica exerce o papel central, agregando os demais saberes, para o desenvolvimento da solução almejada.
O primeiro resultado desta série de estudos, foi a construção de um método de ensino que se utiliza da robótica como ferramenta para inserção e construção da cultura tecnológica em salas de aula, já a partir dos dois anos de idade. Todo esse estudo, embasado em pedagogia, psicologia e tecnologia foi nomeado de Método TRON. Um método pautado na construção do conhecimento usando tecnologia, levando o estudante ao desenvolvimento de sua autoestima e autoconfiança, não sendo apenas um mero usuário de tecnologia, mas sendo capaz de criar,, lhe conferindo habilidades que geram independência e confiança.
Divulgado em 2018, os bastidores da obra proporcionaram um cenário para o nascimento da primeira startup brasileira a desenvolver e entregar um método educativo de maneira funcional para escolas. Surgindo assim a TRON Ensino de Robótica Educativa, startup piauiense que se alicerçou na qualidade de ensino do Estado, com a disrupção tecnológica e hoje, depois de quatro anos a TRON já se faz presentes em mais de onze estados e já atingidos mais de 10.000 alunos. Além da inserção do desenvolvimento da cultura tecnológica em sala de aula. Também é papel prioritário da startup incentivar as aplicações tecnológicas em problemas reais que extrapolam o ambiente escolar, criando assim um campo de significação com um olhar mais incentivador e mais crítico, já que com tecnologia é possível atacarmos muitas problemáticas sociais, desde sugestões e protótipos até mesmo a construção de soluções reais e robustas.
Tecnologia a favor das pessoas
Nesse contexto já contribuímos com várias soluções que se iniciaram no ambiente escolar e se desenvolveram para um cenário geral, com entregas concretas para a sociedade.
DelfiTRON
Foi o caso do desenvolvimento de máscaras respiratórias faciais impressas por manufatura aditiva, impressão 3D, que durante a pandemia passou de um projeto educativo para uma entrega real, com a distribuição de mais de 3.000 unidades diretamentes pela tron e a disponibilização gratuita do arquivo para impressão no site da TRON, por meio do modelo de OPEN INOVATION. Estas 3.000 máscaras distribuídas pela TRON foram capazes de substituir quase meio milhão de máscaras N95, já que a máscara DelfiTRON, teve como foco do projeto ser reutilizável, com substituição apenas da unidade filtrante, desenvolvida a partir de um disco de algodão facilmente encontrado em farmácias, uma vez que houve desabastecimento nacional de máscaras e outros materiais filtrantes. Veja aqui o artigo de referência.
A DelfiTRON foi distribuída em mais de oito países e estimamos que cerca de 30.000 máscaras foram fabricadas e que nos leva uma estimativa de 5.4 milhões de máscaras N95 substituídas. Quantas pessoas ajudamos a proteger com o desenvolvimento e distribuição de nossa tecnologia.
O AirTRON
Além das máscaras, a TRON desenvolveu uma tecnologia de Respirador Pulmonar Profissional, construído a partir de impressora 3D e componentes eletrônicos acessíveis. A tecnologia está pronta para produção emergencial e atualmente aguarda por um processo de validação na Anvisa para possível exploração comercial. Mesmo ainda não utilizado, o respirador batizado de AirTRON apresenta uma série de inovações tecnológicas, tais como a estabilização do PLA (material usado em impressora 3D) para uso em sistemas de ar comprimido, desenvolvimento de um APP que permite o acompanhamento via internet das coisas de pacientes à distância, sendo adaptado para telemedicina, inteligência artificial, sistema de neurofedback, além de ser um respirador de menor custo, de fabricação rápida e nacional.
Outros projetos para COVID
Muitas escolas que utilizavam o método TRON durante a pandemia, foram capazes de desenvolver soluções reais e funcionais dentro do tema de combate ao COVID, como dispenser de álcool gel autônomo, bebedouros e lixeiras autônomas para evitar o contato físico e a proliferação do vírus, além de sistemas de aferimento de temperatura à distância. São ações como essas, que comprovam as premissas estabelecidas pelo Método TRON que prevê o uso de tecnologia de forma educativa e também aplicado a soluções reais.
O potencial tecnológico nas escolas
Recentemente, lançamos uma ação, que também nasceu em uma escola que utiliza o método TRON, que prevê a inclusão de pessoas surdas e com deficiência auditiva no mundo mais sensitivo da música. O dispositivo foi inspirado na aluna Maria Rita que é surda e que gosta de dançar, mas para isso sente muita dificuldade, pois não havia ainda um dispositivo que fosse capaz de coordená-la de maneira dinâmica no processo de interação com a música. O MR é um dispositivo que correlaciona as vibrações sonoras com vibrações "mecânicas" distribuídas pelo tórax com acelerações e pesos diferentes, interpretando dinamicamente em tempo real a estrutura musical, podendo-se trabalhar biofeedbacks em ritmo e harmonia. Logicamente não se trata de ouvir a música, mas de senti-la em tempo real por meio da sensibilidade do tato. O projeto foi divulgado em parceria com o artista Whindersson Nunes, que apadrinhou o projeto e acredita que soluções como essas fazem a diferença no mundo.
A TRON segue a sua busca por escolas que desejam por meio da tecnologia e robótica, desenvolver as novas habilidades nos alunos, com um protagonismo crítico e por meio de uma tecnologia inclusiva que faça sentido para a vida. A seguir, um vídeo que apresenta nossos 3 anos de história.
Por Dr. Gildário Lima